O avanço da crise econômica na Rússia e a desaceleração do crescimento da China, que vem abalando os mercados mundiais, significam que cerca de US$ 113 bilhões em projetos conjuntos, que vão de dutos de gás a redes de distribuição de energia elétrica, estão sendo protelados ou adiados.
Com uma violenta repressão à corrupção também em andamento na China, e a Rússia afetada por sanções econômicas, a queda dos preços do petróleo e o colapso de sua moeda, alguns projetos firmados entre russos e chineses poderão ser adiados indefinidamente, segundo analistas e fontes setoriais.
Os acontecimentos representam um grande desafio à estratégia do presidente Vladimir Putin de se voltar para a Ásia, impelida no ano passado pelas sanções impostas por países ocidentais a Moscou, por sua participação na crise na Ucrânia.
“Os investidores chineses simplesmente fizeram uma pausa para observar para onde o rublo está se dirigindo, porque desde dezembro todas as previsões ministeriais russas não estão sendo cumpridas. Acredito que é principalmente por isso que grandes projetos de investimentos estão sendo adiados”, afirma Sergei Sanakoyev, diretor do instituto Centro de Análises Russo-Chinês.
Um ano atrás, um dólar comprava 33 rublos e recentemente chegou a tocar na marca dos 70, depois que ao colapso dos preços do petróleo, o principal produto exportador da Rússia, juntaram-se as sanções que tornaram impossível para as companhias russas captar recursos no Ocidente.
Autoridades e empresários russos estão contando com a Ásia, particularmente a China, para ajudar a bancar projetos, e Putin encarregou um de seus amigos mais próximos, o bilionário Gennady Timchenko, de estimular os laços de negócios com Pequim. Mas o dinheiro de verdade está demorando para chegar.
Um exemplo é a Novatek, segunda maior produtora de gás da Rússia, que tem como um dos controladores Timchenko. Junto com a Total, da França, e a CNPC, da China, ela está construindo o projeto de gás natural liquefeito (GNL) de Yamal, avaliado em US$ 27 bilhões. Mas a empresa teve bloqueado seu acesso a financiamentos ocidentais assim que os Estados Unidos impuseram sanções a Timchenko.
O empresário disse que a China emprestaria até US$ 20 bilhões para o projeto em 2014, mas até agora o dinheiro não foi desembolsado, enquanto que a soma em questão encolheu para US$ 15 bilhões. O gigantesco projeto de Yamal acabará conseguindo os financiamentos de que necessita, mas o futuro de outros projetos é incerto.
A Gazprom abandonou ao longo do último ano as esperanças de receber um adiantamento de US$ 25 bilhões da China para a construção do duto de gás Power of Siberia para a China, um projeto de US$ 55 bilhões. Em 2006, a Rússia pretendia iniciar o fornecimento de gás para a China em 2011. Mas agora o Power of Siberia não deverá começar a operar antes do fim de 2018, enquanto o cronograma para outra rota – Altai -, que inicialmente deveria entrar em operação primeiro, não está definido.
Das dezenas de projetos conjuntos com a China discutidos nos 15 anos de Putin na Presidência, apenas uns poucos foram implementados, incluindo um oleoduto de médio porte pelo qual Pequim pagou antecipadamente US$ 25 bilhões para a estatal de petróleo Rosneft e ao monopólio dos oleodutos Transneft. 23
Outros projetos que vêm sendo discutidos, mas estão atrasados ou progredindo lentamente, incluem os planos da Rosneft da vender participações em campos de petróleo do leste da Sibéria para a CNPC da China e a construção conjunta de instalações de refino na Rússia e na China.
As esperanças de investimentos chineses ainda incluem uma fábrica de processamento de madeira de US$ 1 bilhão na cidade siberiana de Tomsk; uma grande ponte ligando a Rússia à Crimeia; uma ferrovia de alta velocidade ligando Moscou a Kazan, para a Copa do Mundo de Futebol de 2018; e até mesmo ideias para a construção de uma estação conjunta na lua.
Fonte: Valor Econômico