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“A CONCENTRAÇÃO DE CO2 HOJE ESTÁ BEIRANDO 400 PARTES POR MILHÃO”.

“Ciência é algo verificável, baseado em evidências e cumulativo. Mesmo tendo titulação acadêmica, não se pode afirmar qualquer coisa, desconectando-se da realidade”, considera o pesquisador.

“Este ano será divulgado o quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas IPCC e, apesar do conservadorismo da comunidade científica, as evidências são tão gritantes que, sem dúvida, algumas das afirmações do relatório referentes ao aquecimento global e ao papel antrópico vão ser mais fortes ainda que do quarto”, informa Alexandre Araújo Costa, professor titular da Universidade Estadual do Ceará, em entrevista concedida, por telefone, à IHU On-Line.

Segundo ele, “o IPCC deixa muito claro que o aquecimento global é inequívoco. Ele existe e é antrópico. Não há como explicar esse aquecimento a não ser pelo aumento na concentração dos gases do efeito estufa. Se fosse pela atividade solar e outros efeitos naturais, teríamos tido, na realidade, um ligeiro resfriamento na metade final do século XX, uma diminuição da ordem de 0,1 a 0,2 graus e não um aquecimento de 0,8 graus”.

Alexandre Araújo Costa (foto) é professor, pesquisador e um dos autores do primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Mestre em Física pela Universidade Federal do Ceará, cursou doutorado em Ciências Atmosféricas pela Colorado State University e possui pós-doutorado pela Universidade de Yale. Foi gerente do Departamento de Meteorologia e Oceanografia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos. É professor titular da Universidade Estadual do Ceará e bolsista de produtividade do CNPq.

Confira a entrevista.

IHU On-Line O senhor faz parte da corrente de cientistas, que é a grande maioria, que sustenta que há, sim, aquecimento global relacionado à emissão de gases do efeito estufa, entre eles o CO2. Realmente existe o aquecimento global causado por esses gases ou a variação térmica do planeta está relacionada a fenômenos naturais?

Alexandre Araújo Costa – Ciência é algo bem estabelecido, verificável, baseado em evidências e cumulativo. Mesmo tendo titulação acadêmica, não se pode afirmar qualquer coisa, desconectando-se da realidade. Por exemplo, as espécies animais que existem hoje surgiram há 6 mil anos atrás do jeito que são? É evidente que não, pois isso contraria as evidências. Do mesmo modo, negar o aquecimento global é contrariar medições, dados, evidências. Então, é preciso ser bem claro. Não existe mais debate na comunidade científica quanto a isso. O pesquisador analisa dados, submete artigos, isso é debatido em congressos científicos, isso é avaliado para publicação em periódicos. E, obviamente como são hipóteses testáveis, esse processo é repetido várias vezes. No nosso caso específico, existe um corpo de evidências tão grande quanto o que existe a favor da evolução das espécies ou da gravitação universal.

Caminho científico

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas IPCC existe desde 1988, com o objetivo de contribuir para o entendimento dos processos climáticos. Sou um dos autores principais do primeiro relatório do Painel Brasileiro das Mudanças Climáticas, que funciona na mesma lógica, inclusive com a mesma distribuição de trabalho em grupos (bases físicas, vulnerabilidade e impactos e mitigação) e posso lhes dizer como funcionam os painéis. O IPCC não faz nada que não seja levantamento de literatura. Ou seja, não existe uma ciência produzida pelo IPCC à parte da ciência do clima e das demais áreas do conhecimento, que se reflete no que é publicado em revistas tais como a Science e a Nature, além de inúmeras publicações da área em outros meios. Junto à comunidade de cientistas ativos, que desenvolvem pesquisa independente e publicam, existe um claro consenso em torno da existência do aquecimento global e de suas causas. Infelizmente, existe uma distorção disso junto à opinião pública, que é, na verdade, consequência de uma exposição desproporcional dos que defendem a negação das mudanças climáticas, algo que se assemelha ao criacionismo ou do geocentrismo.

Levantamento histórico

O que a ciência tem é atestado por medidas de superfície, de rádiossonda, de satélites. Outro ponto é que o aquecimento não se restringe à temperatura da superfície e do ar, pois existe um fluxo de calor para o planeta que interfere em outros componentes do sistema climático. Na Física básica, aprende-se que existe o calor sensível, que envolve mudança de temperatura sem mudar a fase e o calor latente, que, por exemplo, faz com que o gelo derreta sem mudar a temperatura. Quando dizem “não houve mudança significativa de temperatura, nos últimos 5, 6 anos”, isso é uma meia verdade, pois houve um aumento do conteúdo de calor dos oceanos, sem contar que o que aconteceu com as calotas polares, que perderam massa, principalmente no Ártico. Tudo isso é perfeitamente compatível com o que é fundamental nesse processo todo, que é um desequilíbrio energético: existe mais energia chegando no planeta na forma de radiação de onda curta, isto é, solar, do que deixando o planeta na forma de radiação de onda longa, ou infravermelho. Por conta desse desequilíbrio energético, o planeta está aquecendo, conforme o esperado para uma concentração de CO2 beirando 400 partes por milhão.

Experimentos

É muito estranho e sinto até um certo constrangimento em ovir alguém dizer que o CO2 não exerce controle sobre o clima. Ora, a primeira estimativa do potencial de aquecimento do clima causada por um eventual aumento de CO2 foi feita ainda no século XIX por Arrhenius, uma estimativa razoável para a época. É um fato: nós estamos em meio a um experimento climático planetário involuntário de grandes proporções, que está mudando a face do planeta. Nas eras glaciais, a concentração desse gás era de 180 ppm e nos interglaciais dos últimos 800 mil anos não ultrapassou 300 ppm. Mais: não há registro na história da Era Cenozóica, nos últimos 65 milhões de anos, de existência da calota polar do Ártico em períodos com concentrações de CO2 acima de 400 partes milhão. Há 34 milhões de anos, quando surgiu a calota polar da Antártica, isso aconteceu justamente quando a concentração de CO2 baixou de 500 ppm (partes por milhão). Toda a história do nosso planeta mostra, portanto, uma relação íntima entre CO2 e temperatura.

IHU On-Line – Centros de pesquisa como do Met Office, de Oxford a Berkeley, e entidades globais defendem que existe o aquecimento global. O senhor considera que há o risco destas instituições estarem envolvidas em manipulação de informações para defender interesses dos países ricos?

Alexandre Araújo Costa – Pensar nessa possibilidade é pensar em uma teoria da conspiração inteiramente fantasiosa, além do que chega a ser ofensivo para nós, cientistas. A comunidade científica do clima é a mais transparente que existe. Exatamente porque o clima não tem fronteiras, nossa ciência não tem fronteiras também. Os dados coletados, os resultados de modelos estão aí para todo mundo. Então a resposta é muito clara: não. Não há manipulação de dados pelos centros. Para que isso pudesse ser uma história coerente, teria que ter todos os cientistas da área envolvidos nessa conspiração. Além deles, todos os editores das revistas científicas que publicam artigos com os resultados. Teria que ter corrompido as empresas que fabricam sensores meteorológicos, porque os dados de muitos sensores chega automaticamente e por aí vaí…

Interesses

Se há interesses em jogo, posso garantir que não há interesse maior do que o das companhias de combustíveis fósseis em confundir a opinião pública. É claro que há empresas que querem vender seus aerogeradores, seus painéis solares, etc. Sem dúvida alguma. Mas veja: entre as maiores empresas do mundo, a de maior faturamento é a Shell, a segunda é Exxon. Da lista de 12 maiores companhias do mundo, só o Walmart não pertence ao ramo do petróleo, automobilístico, do gás natural ou do carvão mineral. Há também uma pesquisa que mostra claramente o envolvimento desse setor com os bancos, com os executivos destes tendo assento no conselho deliberativo dessas companhias e vice-versa. E essas corporações poderosíssimas tentam confundir a opinião pública para atrasar as medidas necessárias para conter o aquecimento global, para que seus lucros gigantescos não se reduzam. É a mesma tática utilizada pela indústria do tabaco que, mesmo diante de todas as evidências de câncer ligado ao fumo, conseguiu ganhar muito tempo, semeando dúvidas que não deveriam existir. Sobre o clima, é até espantoso que nós cientistas tenhamos conseguido fazer minimamente que nossas descobertas sejam vistas, sejam ouvidas, passando por cima dessas corporações.

IHU On-Line – É possível estabelecer um diálogo entre estas duas correntes, isto é, os que atribuem o aquecimento da superfície terrestre aos gases do efeito estufa e os que negam essa relação?

Alexandre Araújo Costa – O que existe é o método científico. A ciência é totalmente aberta e há um diálogo constante na comunidade científica com base neste método. Tipicamente, em suas pesquisas, obtêm-se resultados que devem ser reportados em um artigo e submetidos à apreciação editorial de revistas e periódicos. Os pares avaliam, questionam, verificam a correção do método, a qualidade e o mérito do trabalho. O que se pode chamar de diálogo se dá desta forma, através da literatura científica, porque em ciência é preciso estar amarrado em evidências. Nesse contexto, o IPCC cumpre justamente o papel de facilitar, acelerar e qualificar o diálogo na comunidade científica, ao produzir aquilo que são certamente o mais rico compêndio da ciência contemporânea: os seus relatórios. Neles, para se obter, digamos, uma estimativa da influência do sol ou do CO2 no clima nos últimos 250 anos, consideram-se as estimativas feitas por vários autores. O número que o IPCC mostra, que é uma média de todas essas estimativas (publicadas em artigos revisados), é que o acúmulo de energia devido ao CO2, em 2007, já era oito vezes maior que a contribuição das variações na atividade do sol.

IHU On-Line – Quais foram os principais avanços científicos que permitem garantir que o aquecimento global, atualmente, decorre da intervenção humana no planeta?

Alexandre Araújo Costa – Agora temos uma rede de sensores observacionais bastante significativa. Uma das recentes lacunas, mas que está mais próxima de ser preenchida, são as medidas nos oceanos. Hoje existe uma rede de boias que permite quantificar o conteúdo de calor oceânico e entender melhor os fluxos de energia. Afinal, sabe-se que os continentes aquecem e esfriam muito rapidamente, e a maior contribuição para a termodinâmica do clima vem dos oceanos. Na verdade, mais de 90% do desequilíbrio energético associado ao aumento do CO2 é energia que vai para os oceanos. Uma fração menor vai para o gelo, outra para a superfície, outra para a atmosfera. Se formos verificar o que tem acontecido, perceberemos que o aquecimento é muito mais visível quando monitoramos os oceanos.

Monitoramento instantâneo

Os satélites também têm permitido que nós possamos fazer o monitoramento global como nunca antes se imaginou, principalmente das calotas polares, onde os resultados são dramáticos. O gelo marinho não tem apenas diminuído em área; ele tem diminuído em volume. Além de estar cobrindo uma área menor, tendo chegado ao menor valor da história no ano de 2012, ele tem se tornado muito menos espesso. A estimativa em 1979 era de que o gelo marinho do Ártico ocupava 16.855 quilômetros quadrados. Em 2012, são apenas 3.261 quilômetros quadrados.

Projeções conservadoras

 

Com base nessas novas observações e a partir dos relatórios do IPCC, é possível aferirmos as projeções com a realidade. Em termos da temperatura da superfície, a evolução recente da temperatura, tem estado perfeitamente dentro do intervalo de projeções, determinado a partir dos vários resultados de modelos diferentes, de vários grupos de pesquisa. Já nas outras questões, as projeções têm-se mostrado conservadoras. A expectativa era a de que os oceanos, no começo deste século, se elevassem a uma taxa de 2 milímetros por ano, mas o que a realidade mostra são 3,3 milímetros por ano, correspondendo ao valor mais “alarmista” dentre as projeções de 2007. Hoje, todos sabemos que a projeção de elevação do nível do mar vem sendo subestimada.

Outra projeção que se mostrou muito “cautelosa” é a de perda de gelo nas calotas. A média de degelo que se viu no Ártico em 2012 somente era esperada para 2030, pelo mais pessimista de todos os modelos e para 2060 considerando-se a média de todas as projeções. Havia até modelos que apontavam que chegaríamos no final do século e não teríamos o degelo de 2012. A questão é mais grave porque há, aí, mecanismos de retroalimentação. O gelo é mais brilhante do que o oceano e o solo, ou seja, tem maior albedo, então quando ele derrete expõe uma superfície mais escura, que absorve mais radiação solar, aquecendo o planeta mais rapidamente. Quando se tem um degelo na superfície, a tendência também é que a água de cima da superfície pressione o gelo e consiga perfurar a calota e chegar até a base, levando à ruptura de grandes blocos de gelo. Por fim, sabe-se hoje que o gelo mais novo deixa passar mais raios solares o que gera um aquecimento no oceano abaixo. Esses aspectos não eram levados em conta pelos modelos até recentemente, e isso faz muita diferença.

IHU On-Line Deseja acrescentar algo?

Alexandre Araújo Costa – Este ano será divulgado o quinto relatório do IPCC e, apesar do conservadorismo da comunidade científica, as evidências são tão gritantes que, sem dúvida, algumas das afirmações do relatório vão ser mais fortes ainda que do quarto. O IPCC deixa muito claro que o aquecimento global é inequívoco. Ele existe e é antrópico.

Combustíveis fósseis

Nós sabemos que o aquecimento global vem da queima de combustíveis fósseis por uma razão muito simples. São vegetais soterrados há milhões de anos que se decompuseram e se transformaram em hidrocarbonetos. A composição isotópica é diferente entre a atmosfera e as plantas que, quando fazem fotossíntese, dão “preferência” ao carbono 12. Quando as plantas apodrecem, milhões de anos depois, os átomos de carbono permanecem. Portanto, os combustíveis fósseis têm uma composição de carbono 12 e 13 diferente da atmosfera, ou seja, são pobres em carbono 13. Se eu queimar combustíveis fósseis e colocar na atmosfera o resultado da queima, vou diminuir a proporção de átomos de carbono 13, que é exatamente o que está acontecendo! Sabemos que o planeta aquece, sabemos que isso se dá principalmente pela elevação das concentrações de CO2 e sabemos exatamente de onde esse aumento vem. Para mim, não há dúvida de que as distorções existentes entre a comunidade científica e o que é veiculado midiaticamente estão relacionadas aos interesses da indústria petroquímica e, no Brasil, a outro componente: o agronegócio. Basta ver o relatório do Aldo Rebelo, de desmanche do Código Florestal, que lançou mão de argumentos de negação do aquecimento global.

Desigualdade, quem sofre são os mais pobres

Outra coisa que é fundamental ressaltar é a desigualdade no processo todo. Quem lucrou com as emissões foram meia dúzia de corporações. Quem é mais pobre é que sofre mais com os impactos. É sobre o pescador que depende dos peixes, que dependem dos corais e pequenos moluscos cuja sobrevivência está sendo comprometida por conta da acidificação dos oceanos, resultado da dissolução do CO2 acumulado na atmosfera. Também são esperados mais eventos extremos com os climas mais quentes, tanto mais enchentes quanto mais secas.

Não é à toa que habitantes de países insulares têm apresentado reivindicações muito claras em relação ao que se refere ao clima, porque buscam que a concentração de CO2 volte para 350 partes por milhão. Esse é o nível seguro que evitaria o aquecimento de um grau. Acima dessa concentração, como já estamos, os impactos esperados sobre esses países são enormes, não só devido à elevação dos oceanos, o que pode fazer alguns deles praticamente desaparecerem ao longo desse século, como também pode comprometer, já nos próximos anos, seus lençóis freáticos, ficando sem água potável.

Energia renovável

O Brasil poderia dar um bom exemplo e sair dessa lógica de hidrelétricas de grande porte e termelétricas, que teve continuidade no governo Dilma, em relação ao de FHC. Hoje, 5% da energia total da Alemanha vem de energia solar, grande parte delas de cima do telhado das casas. Eles têm um plano de em dez anos desativar todas as usinas nucleares exatamente em função do crescimento da energia solar. O local do Brasil onde tem menos radiação solar tem 40% a mais que a Alemanha. Imagina se o governo subsidiasse estes painéis! Eu acho que para as famílias de baixa renda seria doar mesmo e, para a classe média, subsidiar ou criar linhas de crédito. Esse é o caminho.

Zerando o desmatamento e com os recursos renováveis que temos em abundância, o Brasil poderia ser um país de emissão zero, exceto pelo transporte, que também pode evoluir com a necessária aposta no transporte público. O Brasil poderia, então, “falar grosso”, não só com Estados Unidos, mas também com a Comunidade Europeia, com a China e com a Índia, que não têm cortado as emissões em níveis aceitáveis. Em relação às políticas públicas de incentivos ao transporte individual, como a redução de IPI, supostamente para preservar os empregos dos trabalhadores, o país criou algumas cidades com o trânsito totalmente inviabilizado, sem falar da emissão enorme de CO2. É preciso um transporte coletivo bom e barato. É um direito nosso de ir e vir, casado com a necessidade de reduzir emissões.


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BIOCOMBUSTÍVEIS E A ESCASSEZ DE ALIMENTOS.

 

Plantações destinadas à produção de combustível tomam espaço de culturas agrícolas básicas.

A reportagem é do The New York Times e reproduzido pela Gazeta do Povo,

A cada ano, uma porção cada vez maior das plantações e culturas agrícolas mundiais (mandioca, milho, cana-de-açúcar e óleo de palmeira) está sendo direcionada para a produção de biocombustíveis, devido às exigências de maior utilização de combustíveis de fontes renováveis (não fósseis) já aprovadas em algumas nações desenvolvidas. Além disso, grandes consumidores famintos por energia como a China estão buscando novas fontes energéticas para alimentar seus veículos e suas indústrias. A mandioca é relativamente nova no mundo dos biocombustíveis.

A utilização de fontes verdes de combustível possui, todavia, suas consequências. Por causa do expressivo aumento no preço dos alimentos nos últimos meses, vários especialistas estão pedindo aos países que diminuam seu apetite para combustíveis verdes visto que a combinação de metas ambiciosas no uso de biocombustíveis e o atual baixo excedente agrícola de culturas essenciais para alimentação humana pode ser desastrosa e ter impacto direto sobre o preço dos alimentos, da fome e de instabilidades políticas.

Neste ano, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura reportou que o índice dos preços foi o maior registrado nos 20 anos de existência do órgão. Os preços subiram 15% só no período compreendido entre outubro e janeiro, o que potencialmente “colocou abaixo da linha de pobreza 44 milhões de pessoas em países de baixa e média renda”, conforme apontou o Banco Mundial.

O aumento no preço dos alimentos nos últimos meses também causou protestos e contribuiu para a agitação política em países pobres, incluindo a Argélia, o Egito e Bangladesh, nações onde o óleo de palmeira, ingrediente muito utilizado para a fabricação de biocombustíveis, é também uma das principais fontes de nutrientes cruciais para uma população que vive em desesperadora pobreza.

No segundo semestre de 2010, o preço do milho disparou 73% nos Estados Unidos, aumento que o Programa Mundial de Alimentos da ONU atribui ao maior uso do milho americano para a produção de bioetanol. O Congresso norte-americano exigiu que o consumo anual de biocombustíveis atinja, no mínimo, 36 bilhões de galões (136 milhões de litros) até 2022. A União Europeia estipulou que 10% do combustível utilizado em transportes devem obrigatoriamente ser de origem renovável (como biocombustíveis ou energia eólica) até 2020. Países como a China, Índia, Indonésia e Tailândia também estabeleceram metas de consumo de biocombustíveis.

Muitos fatores têm impacto no preço dos alimentos, entre eles o mau tempo, que afeta os ciclos de plantio e colheita, e os altos preços dos combustíveis, que tornam o transporte dos alimentos mais caro. No ano passado, por exemplo, uma grave crise climática destruiu as plantações de trigo na Rússia, Austrália e China, e uma infestação de piolhos-farinhentos reduziu a produção de mandioca tailandesa.

Olivier Dubois, especialista em bioenergia da Organização de Alimentos e Agricultura em Roma, disse que é difícil mensurar a extensão do impacto causado pelos biocombustíveis sobre o preço dos alimentos. “O problema é muito complexo, o que dificulta precisar se os biocombustíveis são positivos ou negativos para o mercado de alimentos. Tudo que se pode precisar é que os biocombustíveis impactam os preços. Se é 20, 30 ou 40%, tudo depende do modelo que está sendo utilizado”, disse o especialista.

Apesar de não estar sugerindo que a utilização de biocombustíveis deve ser abandonada, Dubois e outros especialistas sugerem que todos os países revisem suas políticas para que metas muito altas para a substituição de fontes de energia sejam suspensas quando se possui um baixo estoque de alimentos ou seus preços estejam altos demais.

Pode ser arriscado prever como as novas demandas do setor de biocombustíveis irão afetar a oferta e o preço dos alimentos. Às vezes, como é o caso milho e da mandioca, a competição acirrada entre os compradores pode fazer com que o preço dos vegetais necessários à produção do biocombustível suba. Em outros casos, a escassez e a inflação de preços se devem ao fato de fazendeiros terem parado de produzir alimentos e trocado suas lavouras pelo plantio de vegetais com potencial energético. A China aprendeu uma dura lição há quase uma década quando decidiu fabricar bioetanol a partir do milho. O país acabou se vendo em meio a uma alarmante crise de escassez de alimentos e o aumento indiscriminado dos preços.

Em 2007, o governo chinês vetou a utilização de grãos para a produção de combustíveis. Desde então, cientistas chineses aperfeiçoaram o processo de produção através da mandioca, uma raiz com ótima capacidade energética, o que levou a construção da primeira usina comercial de álcool de mandioca.

Fonte: IHU


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EUROPA BUSCA BIOCOMBUSTÍVEIS REALMENTE “VERDES”.

 

Qual seria a alternativa para os biocombustíveis atuais, que a Europa quer parar de usar? A questão estava na pauta do dia do conselho dos ministros da Energia dos 27 países-membros da União Europeia, na última sexta-feira (22), em Bruxelas. A resposta promete ser problemática.

A reportagem é de Pierre Le Hir, foi publicada no jornal francês Le Monde e reproduzida no portal Uol, 25-02-2013.

A deputada europeia Corinne Lepage, relatora desse dossiê no Parlamento, começou a consultar agricultores, industriais, pesquisadores e associações. Até o momento ela não apresentou nenhum caminho. “Seria difícil imaginar que, para um projeto cujo objetivo seja a redução dos gases de efeito estufa, não conseguiríamos chegar a uma solução nesse sentido”, ela disse simplesmente.

Em outubro de 2012, a Comissão Europeia reconheceu a nocividade para o planeta dos biocombustíveis de primeira geração, também chamados de “agrocombustíveis” por serem resultantes de culturas agrícolas: canola, soja, girassol e palma para o biodiesel; cana de açúcar, beterraba, milho e trigo para o bioetanol. Apropriando-se de terras antes reservadas para a alimentação humana e animal, esses cultivos destinados à energia também têm resultados ambientais desastrosos, segundo alguns.

Isso se deve à mudança do uso indireto dos solos (Indirect Land Use Change ou ILUC). O deslocamento das produções alimentares para plantações destinadas aos biocombustíveis de fato têm levado à destruição de florestas, de pradarias e de turfeiras, que sequestram carbono.

A Agência Francesa do Meio Ambiente e do Controle da Energia (Ademe) concluiu que, “em mais de dois terços das avaliações”, os agrocombustíveis não atendem aos objetivos europeus de redução dos gases de efeito estufa, se levarmos em conta a mudança de uso dos solos.

O Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares (IFPRI) chegou a calcular que, para certos biodiesels, (o biocombustível mais utilizado), as emissões de CO2 são superiores às dos combustíveis fósseis, quando se integra esse fator.

Isso explica o projeto de diretivas de Bruxelas, submetido para exame do conselho de ministros e do Parlamento europeu. Ele visa limitar em 5%, ou seja, o nível atual, o uso de biocombustíveis oriundos de cultivos de alimentos. E, para atingir essa meta, ainda em vigor, de 10% de energias renováveis nos transportes até 2020, ele pretende substituí-los por “biocombustíveis avançados realmente sustentáveis”. São os de segunda geração, tirados da madeira, da parte não alimentícia de plantas (ou “remanescentes”: caules, galhos e folhagens) e de resíduos orgânicos. E os de terceira geração, os extratos de microalgas.

O problema é que essas duas tecnologias estão somente no estágio de pesquisa e de desenvolvimento. Uma produção industrial não é esperada para antes da próxima década. Além disso, ainda que se suponha que investimentos e um esforço de pesquisa maiores permitam andar mais rápido – e chegar a uma rentabilidade econômica hoje incerta – , o balanço de carbono delas ainda não foi estabelecido.

Para a segunda geração, o reaproveitamento de “remanescentes” florestais que não é feito pela indústria madeireira ou de resíduos agrícolas será bom para o meio ambiente. Mas em se tratando de palha de milho ou de trigo, o fornecimento entrará em concorrência com a ração animal. E se a matéria-prima provier de cultivos dedicados aos biocombustíveis – gramíneas de alta produtividade como o miscanthus ou árvores de crescimento rápido como o salgueiro, o álamo e o eucalipto – , então a produção dessa biomassa mobilizará também terras agrícolas e provocará uma mudança de uso dos solos.

Segundo uma publicação científica recente, uma multiplicação de bosques de curta rotatividade também pode agravar a poluição por ozônio e provocar uma queda nos rendimentos agrícolas. Quanto à terceira geração, embora as microalgas tenham uma capacidade fenomenal de acumular óleos e açúcares, convertíveis em biodiesel ou em bioetanol, seu cultivo também exige espaço. Esse é o objeto da pesquisa de Sophie Bresc-Litzler, doutoranda na Universidade Paris-1, sobre as “restrições geográficas” da algacultura.

Esta pode ser realizada em bacias abertas. Para isso a pesquisadora explica que são necessários “espaços verdes planos e amplos, com acesso a água em abundância, boa insolação, zonas protegidas dso ventos e das intempéries meteorológicas, bem como a presença de indústrias que emitem CO2, do qual as algas se alimentam”. O que pode provocar conflitos de uso com as atividades agrícolas é o uso dos recursos hídricos ou o desenvolvimento periurbano.

Ainda que os territórios ultramarinos ofereçam um verdadeiro potencial de desenvolvimento, “para uma produção de biocombustível em escala industrial seriam necessárias superfícies consideráveis para se chegar a uma rentabilidade mínima”, acredita Bresc-Litzler.

O cultivo também pode ser feito de maneira intensiva em uma espécie de estufa (fotobiorreatores). Mas, embora estes tenham a vantagem de poderem ser instalados em indústrias, a quantidade de luz necessária para as algas é um fator limitante.

Portanto, a busca por biocombustíveis realmente “verdes” promete ser difícil. Várias ONGs já estão pedindo para que a mudança de uso dos solos seja considerada para as futuras tecnologias, para “evitar que elas tenham um impacto ambiental nefasto“.

Fonte: IHU


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ISRAEL QUER SUBSTITUIR COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS POR ÁRVORES QUE GERAM ENERGIA.

 

Stanley Hirsch pensa grande: graças à Arabidopsis, algum dia “todas as energias fósseis” poderão ser substituídas pelo procedimento desenvolvido pela FuturaGene, a empresa de biotecnologia da qual ele é diretor-geral. Seus escritórios ficam em Park Tamar, reduto high-tech de Rehovot, cidade situada ao sul de Tel-Aviv, cuja reputação hoje se deve menos a seus limoeiros do que à sua concentração de empresas de alta tecnologia.

A reportagem é de Laurent Zecchini, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 23-02-2013.

A Arabidopsis é uma planta da família das Brassicaceae, que contém um gene de propriedades revolucionárias que permitem modificar a estrutura celular das plantas para incrementar seu crescimento. Ao introduzir esse gene em eucaliptos e álamos, é possível obter espécimes que crescem 40% mais rápido e que atingem um tamanho nitidamente superior.

Mas qual seria o interesse de tal manipulação genética? Mercados consideráveis para a comercialização de polpa de celulose, biocombustíveis e pellets de madeira, que alimentam tanto usinas elétricas quanto frigideiras domésticas. Stanly Hirsch espera que a tecnologia desenvolvida pela FuturaGene “gere muitos benefícios”.

Risco de esgotamento dos solos

Antes que essa mina de ouro se vire realidade, há obstáculos que devem ser superados, sendo um deles a obtenção de uma autorização das autoridades para uma exploração comercial em grande escala. Hirsch espera obtê-la do governo brasileiro nos próximos meses. Por que o Brasil? A FuturaGene possui ali plantações de milhares de eucaliptos (bem como na China e em Israel), e testes com árvores geneticamente modificadas vêm sendo efetuados ali há cerca de dez anos.

Além disso, sua empresa foi comprada em julho de 2010 pelo grupo brasileiro Suzano Papel e Celulose, segundo maior produtor mundial de polpa de eucalipto e um dos principais fornecedores mundiais de pellets de madeira. De acordo com Stanley Hirsch, os eucaliptos transgênicos não apresentam nenhum perigo ao meio ambiente. Ele minimiza as críticas das organizações ambientais, que se preocupam principalmente com as florestas naturais. “Não temos impacto sobre o solo, a flora e a fauna, uma vez que a cultura do eucalipto transgênico não é invasiva. De qualquer forma, nós trabalhamos em estreita colaboração com os governos e as autoridades sanitárias”, garante Hirsch.

No entanto, os ambientalistas se preocupam com os riscos de uma tecnologia como essa aplicada sobre milhares de hectares: desertificação dos solos, diminuição da biodiversidade e das reservas de água. Na China, onde a FuturaGene possui um grande escritório em Xangai, bem como vastos campos de álamos transgênicos, certos especialistas se preocupam com a disseminação dos transgênicos através do pólen e das sementes.

Gilles Pilate, diretor de pesquisa na unidade “melhoramento genético e fisiologia florestal” do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA) se mostra tranquilo: “As possibilidades de cruzamento só existem com outros eucaliptos, não há riscos de contaminação de outros cultivos.” No entanto, ele ressalta a necessidade de se monitorar de perto os solos: “Se o rendimento aumenta 40%, isso quer dizer que essas árvores puxam o mesmo tanto de elementos minerais a mais”. Isso pode acarretar o esgotamento dos solos.


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SINDICATOS TÊM DE SE INTEGRAR INTERNACIONALMENTE.

Sindicatos têm de se integrar internacionalmente para enfrentar a rearticulação neoliberal

 

Em conferência realizada em São Paulo, CUT, Observatório Social e FES debatem cooperação internacional

Escrito por: Isaías Dalle

Passado o susto inicial causado pela crise internacional nos anos de 2008 e 2009, quando foi quase unânime o diagnóstico de que a desregulamentação dos mercados financeiros é a principal responsável pelo desastre, neste momento o neoliberalismo está em franca rearticulação e, através de um movimento organizado entre grandes potências, corporações, organismos internacionais e mídia conservadora, empreende também sua reabilitação diante da opinião pública.

A palavra-chave deste processo de revitalização e reabilitação do neoliberalismo é “competitividade”, conceito baseado na suposta necessidade de baixar os custos produtivos das nações – aqui cantado em prosa e verso como “custo Brasil” – o que, na prática, significaria redução de direitos trabalhistas e supressão de políticas sociais que alocam recursos financeiros em proteção social e redistribuição de renda.

Ao mesmo tempo, a crise internacional, que ainda espalha seus efeitos danosos pelo mundo, fez diminuir as verbas e recursos internacionais destinados a programas de cooperação entre entidades sindicais e movimentos sociais. Esse sintoma da crise é acompanhado, por outro lado, pelo aumento da participação de grandes corporações privadas em programas de cooperação, especialmente na área ambiental, com viés neoliberal.

Sem sindicato não dá

Nesse cenário, em que a crise é combatida preferencialmente pelo ataque aos direitos dos trabalhadores, em especial nos países europeus, torna-se ainda mais importante a ação sindical integrada internacionalmente para combater a reação conservadora e impedir que o neoliberalismo siga livremente como opinião hegemônica.

 

  Roberto Parizotti  

Embaixador Pinheiro fala durante a Conferência

Embaixador Pinheiro fala durante a Conferência
 

Por isso, a criação do Instituto de Cooperação da CUT acontece em boa hora, na avaliação dos debatedores convidados para a parte da manhã da “12ª Conferência Pesquisa e Ação Sindical – Cooperação Sindical Internacional: Diagnóstico e Perspectivas”, que acontece ao longo desta segunda, dia 25 de fevereiro, na capital paulista. O encontro é uma iniciativa da CUT e do Instituto Observatório Social (IOS), em parceria com a Fundação Friedrich Ebert (FES)

 

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, professor do Instituto Rio Branco e Fátima Mello, da Coordenação da Rebrip (Rede Brasileira pela Integração dos Povos), que participaram dos debates da manhã, apresentaram o diagnóstico cuja síntese abre este texto.

Balança frágil

O outro debatedor, Giorgio Romano Schutte, coordenador do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, chamou a atenção para questões macroeconômicas brasileiras como condicionantes do papel que o País pode desempenhar nas relações internacionais. Ele destacou que a balança comercial, embora continue obtendo saldos positivos, tem sua qualidade cada vez mais frágil. Sustentada pelas exportações de commodities – produtos agropecuários e minerais, em sua maioria – sofre, no entanto, com a queda cada vez mais acentuada da venda de produtos industrializados, ou seja, demonstra o processo de enfraquecimento da atividade fabril e a consequente perda de valor agregado. O déficit da balança nesse item foi de aproximadamente US$ 100 bilhões em 2011.

“Estamos entrando numa fase crucial de nosso projeto de transformação”, afirmou Schutte, em referência aos governos Lula e Dilma. Em sua análise, o crescimento econômico sustentado especialmente pelo agronegócio e pela indústria extrativista fortalece setores conservadores no plano político interno (“Os líderes ruralistas sabem cada vez mais do peso que têm na hora de o Brasil fechar as contas”, destacou) e representa um obstáculo para uma inserção mais soberana do País no plano internacional.

Simultaneamente, as multinacionais mantêm ou ampliam seu poder de fogo, como lembrou o embaixador Pinheiro. “A ação internacional do Brasil é em grande parte limitada pelas múltis estrangeiras, que ainda são as principais forças produtivas industriais do País. As filiais brasileiras não podem fazer investimentos internacionais, pois isso é reservado a suas matrizes. É uma economia multinacionalizada”, disse. “Temos poucas multinacionais brasileiras, e isso afeta muito nossa política externa”.

Múltis brasileiras

E as multinacionais brasileiras que existem reproduzem, no exterior, práticas prejudiciais aos direitos dos trabalhadores que sempre são criticadas pelo movimento sindical quando praticadas pelas empresas estrangeiras no Brasil, lembrou Fátima Mello, da Rebrip. E mesmo projetos de cooperação patrocinados pelo Estado brasileiro, muitas vezes, reforçam essa visão exploratória. “O caso de Moçambique é importante. Lá, um projeto de cooperação financiado pelo Brasil exporta uma coisa muito boa, que é um programa de aquisição de alimentos. Mas, também lá, um projeto nosso exporta algo muito ruim, que é o projeto Pró-Savana, que vai incentivar o plantio de soja no interior do País e que coloca em risco as propriedades e a permanência de mais de quatro milhões de camponeses, que hoje temem por sua expulsão daquelas terras”, narrou.

Fátima lembra que esses projetos, embora capitaneados por um Estado nacional, é composto por empresas de diversas origens e ramos de atividade, cujos interesses não incluem a solidariedade ou a promoção de direitos humanos.

“O movimento sindical precisa agir fortemente na definição desses projetos e na própria política externa brasileira”, afirmou Pinheiro. Fátima lembrou que há pouca transparência nessa política – falta de dados e indicadores financeiros sobre projetos – e que não existe um interlocutor bem definido por parte do governo para dialogar com as entidades do movimento social. “Enquanto for assim, enquanto não houver uma política pública clara para esse setor, a cooperação internacional brasileira vai continuar interessando apenas aos empresários, eles vão continuar mandando”, disse ela. “As regras têm de ser claras e é importante definir condicionantes sociais para todos esses projetos financiados com dinheiro público”, completou.

Novo alvo neoliberal: Petrobrás

Crise, presença cada vez maior das multinacionais, rearticulação do neoliberalismo, campanha maciça em favor da redução de direitos em nome da competitividade, necessidade de o Brasil reforçar sua capacidade industrial através de maior autonomia e capacidade tecnológica. Tudo isso compõe um campo fértil para, segundo Giorgio Romano, o setor empresarial e financeiro concentrar esforços em mais uma etapa de seu ataque: o marco regulatório do petróleo no Brasil.

Ele chamou a atenção para as recentes e frequentes reportagens na mídia atacando a Petrobrás – a despeito dos bons resultados da empresa – e defendendo uma maior abertura do setor para o capital estrangeiro. “O que eles temem é que nós alcancemos uma maior capacidade de desenvolver conteúdo local”, acredita o professor.

 Assim como a Petrobrás pode ser um instrumento do governo para alavancar políticas produtivas, o Brasil necessita de empresas multinacionais brasileiras para se inserir no plano internacional, defende Romano. Nesse sentido, diz ele, o BNDES tem razões para financiar e fortalecer os chamados “campeões nacionais”, mas erra na forma como está fazendo. “A diferença é investir neles ou ser capturados por eles. Atualmente, não vejo o governo exigir desses conglomerados metas ou compromissos sociais como contrapartidas aos investimentos públicos que recebem”.

  Roberto Parizotti  

Artur participa das intervenções abertas ao plenário

Artur participa das intervenções abertas ao plenário

Contrapartidas sociais

O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, defendeu a necessidade de uma política de cooperação internacional mais ousada por parte do governo brasileiro e de uma abertura para a participação dos movimentos sindical e social na definição dos rumos. “A Agência Brasileira de Cooperação, por exemplo, tem um orçamento muito pobre diante do papel que o Brasil precisa desempenhar”, disse.

Artur Henrique, presidente do Instituto de Cooperação, criado para alavancar a atuação da Central no exterior, destacou que a CUT vem cobrando há tempos a participação de representantes sindicais na definição dos investimentos públicos em empresas e projetos para, especialmente, cobrar o cumprimento de obrigações para com os trabalhadores, as comunidades do entorno e de metas de emprego, renda, proteção social e respeito ao meio ambiente, entre outras. “Vamos continuar pressionando o governo para adotar essas mudanças”.


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EUA – PROTESTOS CONTRA O OLEODUTO KEYSTONE XL.

Ação histórica na porta de Obama

A Sierra Club, uma das mais antigas e influentes organizações ambientalistas dos EUA, reforçou os protestos contra o oleoduto Keystone XL, que aguarda aval da administração de Obama. O projeto é controverso pois permitirá a exploração das areias betuminosas canadenses, consideradas a fonte de petróleo mais suja do planeta. Por Amy Goodman

Amy Goodman*

 
Pela primeira vez em seus 120 anos de história, o Sierra Club, uma das mais antigas e influentes organizações ambientalistas dos EUA, se engajou na desobediência civil, um dia depois que o presidente Barack Obama pronunciou seu discurso do ”Estado da União”(State of Union). O grupo juntou forças com outros para protestar contra o oleoduto Keystone XL, que aguarda uma permissão da administração de Obama. O presidente fez em seu discurso promessas de tratar da crescente ameaça das mudanças climáticas. Mas serão necessárias mais do que palavras para salvar o planeta da perturbação climática induzida pelos humanos: será preciso um crescente movimento diversificado direcionado a Casa Branca com o intuito de demandar ações significativas.


O oleoduto Keystone XL é especialmente controverso pois permitirá a exploração das areias betuminosas canadenses, consideradas a fonte de petróleo mais suja do planeta. Uma das principais vozes que têm alertado sobre a mudança climática, James Hansen, diretor do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA, escreveu sobre as areias betuminosas no The New York Times ano passado, ”se o Canada prosseguir, e não fizermos nada, será o game over para o clima”. Uma nova pesquisa sem fins lucrativos realizada pelo Oil Change International indica que o impacto potencial das areias betuminosas será até mesmo pior do que acreditavam. Pelo fato do oleoduto atravessar a fronteira entre os EUA e o Canada, sua proprietária, a TranCanada Corp., precisa receber permissão do Departamento de Estado dos EUA.

Entre aqueles que foram presos do lado de fora da Casa Branca estava Julian Bond, ex-presidente da NAACP. Bond disse, “a ameaça ao clima do nosso planeta é grave e urgente. (…) Hoje me sinto orgulhoso de estar diante de meus companheiros e declarar, ‘estou disposto a ir para a prisão para interromper este equívoco.’ A crise ambiental que enfrentamos hoje demanda nada menos do que isso”

Duas semanas de protestos na Casa Branca no verão de 2011 levaram à prisão 1252 pessoas. Depois, em Novembro, milhares de pessoas cercaram o nº1600 da Avenida Pennsylvania para reivindicar a revogação da permissão para o Keystone XL. Alguns dias depois, o presidente Obama anunciou que adiaria a decisão para 2013, depois das eleições. Mais tarde, ele concedeu permissão para que fosse construída a perna sul do oleoduto, que vai do Oklahoma ao Texas. Esta decisão desencadeou protestos de proprietários de terra e ambientalistas, incluindo uma ação direta não-violenta na forma de um bloqueio, com pessoas acorrentadas aos equipamentos do oleoduto e ocupando as terras com acampamentos entre as árvores para deter a construção.

Mais cedo, durante o processo de permissão, aquela que seria a Secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que estava propensa a aprovar o oleoduto, ainda que a revisão do mandatário do Departamento de Estado estivesse incompleta. A controvérsia eclodiu quando o The Washington Post relatou que o lobista que defendia o oleoduto em Washington, Paul Elliot, era um funcionário sênior na campanha presidencial de 2008 de Hillary Clinton. A Agência de Proteção Ambiental do EUA (EPA), comandada por uma nomeada de Obama, Lisa Jackson, foi uma crítica do oleoduto. Quando Jackson se demitiu inesperadamente dezembro passado, o New york Post relatou, baseado em um “informante anônimo”, “ela não será a comandante da EPA quando Obama apoiar a construção de Keystone.” Jackson negou estas alegações.

Em seu discurso do Estado da União, Obama deu esperanças àqueles preocupados com o aquecimento global, “Pelo bem de nossos filhos e de nosso futuro, devemos fazer mais para combater as mudanças climáticas. (…) Nós podemos escolher acreditar que o furacão Sandy; e que a seca mais severa em décadas, e os piores incêndios florestais que alguns estados já presenciaram foram apenas uma terrível coincidência. Ou podemos acreditar no irresistível julgamento da ciência – e agir antes que seja tarde.”

O fim de semana do Dia do Presidente verá o que se espera ser o maior protesto contra as mudanças climáticas na história, chamado de ”Para Frente pelo Clima”. 135 organizações participarão, incluindo o Sierra Club, a Rede indígena do Meio Ambiente e a 350.org. O Sierra Club é uma das maiores e mais poderosas organizações ambientais do mundo. Sua decisão de participar na desobediência civil sinaliza uma grande escalada no movimento para conter a mudança climática, reavivando as palavras do primeiro presidente do Sierra Club, John Muit, que escreveu em 1892, ”espero que sejamos capazes de fazer algo pela vida selvagem e de fazer as montanhas felizes”

*Amy Goodman é âncora do ”Democracy Now!,” um noticiário via TV e rádio internacional diário transmitido em mais de mil estações de rádio na América do Norte. Ela é co-autora do ‘O Maioria Silenciada,” um best-seller do New York Times.

Tradução por Roberto Brilhante


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MÍDIA – Destaques internacionais nesta segunda, 25 de fevereiro de 2013.

Petrobras – Fatos e Dados

O site do Wall Street Journal reproduz texto da AFP sobre encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente nigeriano Goodluck Jonathan no sábado. Diz que a conversa focou-se na expansão do comércio entre os dois países, especialmente no setor de energia. Lembra que a Petrobras investiu centenas de milhões de dólares nos setores de energia a gás, a carvão e em petróleo na Nigéria.

Em matéria sobre a sobre a visita, o jornal espanhol El Pais diz que a presidente Dilma ressaltou que a Petrobras já está presente na Nigéria há 14 anos e que a empresa pretende desenvolver ainda mais suas atividades no país africano. Matérias semelhantes foram publicadas ainda em Omã pelo jornal Oman Daily Observer, pelo site cubano Prensa Latina, pelo africano Indepth Africa e pelo francês Agence EconFin.

Na Rússia
, um artigo de opinião do jornal Kommersant trata sobre a tentativa dos russos de expandir negócios com países emergentes. Sobre a América Latina, ressalta a afinidade da Rússia com o Brasil e a possibilidade de projetos conjuntos com a Petrobras.

Em edição especial sobre o Brasil, revista veiculada no fim de semana pelo Financial Times publica lista de 25 brasileiros em ascensão. Entre eles, a presidente Maria das Graças Foster, retratada como “a segunda mulher mais poderosa no Brasil depois da presidente Dilma Rousseff”.


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PETROBRAS – Nova descoberta no pré-sal da Bacia de Santos.

NOVA DESCOBERTA DE ÓLEO DE BOA QUALIDADE NO PRÉ-SAL DA BACIA DE SANTOS

A Petrobras informa que comprovou a ocorrência de óleo de boa qualidade (31 º API) em águas ultraprofundas, no pré-sal da Bacia de Santos, durante a perfuração do poço 1-SPS-98 (1-BRSA-1063-SPS), informalmente conhecido como Sagitário. Este é o primeiro poço perfurado no bloco BM-S-50 e está situado a 194 km do litoral de São Paulo, em profundidade d’água de 1.871m.

A concessão onde o poço está sendo perfurado localiza-se a oeste dos principais descobertas de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos (cluster blocks). A importância desta descoberta decorre do fato de tratar-se de uma área de fronteira exploratória.

O óleo foi encontrado em reservatórios carbonáticos situados logo abaixo do sal, a partir de 6.150 metros de profundidade. O poço ainda está em fase de perfuração e prosseguirá até a profundidade final prevista de 6.950 metros com o objetivo de definir a base dos reservatórios com óleo.

A Petrobras é a operadora do consórcio (60%) em parceria com a BG E&P Brasil (20%) e Repsol Sinopec Brasil (20%).


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PETROBRAS – Atrasos na entrega de equipamentos

Atraso em Rio Grande leva projeto à China

Preocupada em acelerar a produção de petróleo e temendo atrasos na entrega de equipamentos, a Petrobras transferiu para o Exterior parte das obras encomendadas para a Engevix, no Estaleiro Rio Grande. Na origem dos problemas, estariam atrasos na construção de cascos de plataformas.

A informação é publicada pelo jornal Zero Hora, 25-02-2013.

Além de problemas no cronograma em Rio Grande, também houve atraso de entrega no estaleiro Inhaúma, no Rio de Janeiro. Contratados por mais de US$ 2 bilhões e seguindo as regras de conteúdo local, de até 70% para estimular a indústria local, os serviços foram redirecionados para a Indonésia e o estaleiro Cosco, em Dalian, na China.

A Petrobras reconhece que houve mudança de estratégia por causa da falta de disponibilidade dos dois estaleiros. No caso das plataformas replicantes (que repete exatamente a mesma operação de outra), parte do casco será feita no Cosco por causa do atraso na construção dos cascos em Rio Grande. A Engevix não comentou.

Serão erguidas na China as bases de quatro plataformas que farão a exploração do pré-sal da Bacia de Santos. Estão programadas para entrar em operação em 2016 e 2017. Foram encomendadas à Cosco uma parcela da transformação (conversão) de três navios em plataformas (P-75, P-76 e P-77) e as estruturas do casco da plataforma replicante.

“Claramente este é um movimento da Petrobras para poder acelerar o desenvolvimento dos campos”, afirmou o presidente da Odebrecht Óleo e Gás, Roberto Ramos.

Fontes do setor dão como certo que haverá descumprimento de conteúdo local nas obras subcontratadas ao estaleiro Cosco. A Petrobras, que precisará prestar contas à Agência Nacional do Petróleo, nega. “Não haverá descumprimento”, afirma, em nota. Se extrapolar os limites de conteúdo local na conversão, a compensação terá de ser feita na fase de montagem da planta industrial na plataforma.

A decisão da Petrobras de recorrer à China já mostra que a companhia não está disposta a correr o risco de retardar o aumento de sua produção por causa dos atrasos da indústria nacional. O governo usa os contratos da Petrobras para reativar o setor naval. Mas, para acelerar o processo, foi necessário fazer as encomendas antes de os canteiros para as obras (dos estaleiros) estarem prontos. Com o avançar dos projetos, os gargalos da indústria nacional ficam mais evidentes.

A P-76 passa por limpeza na Indonésia e depois segue ao Cosco. Os três navios nem sequer estiveram no Brasil, foram da Malásia direto para Indonésia e China. Apenas a P-74 segue o processo de conversão no estaleiro Inhaúma, no Rio. A Petrobras também negocia no Exterior para alugar, e não construir, as cinco plataformas (FPSOs) extras para a área da cessão onerosa.

FONTE: IHU


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CARTA À REVISTA EXAME – Esclarecimentos da Petrobras.

 

Em relação à matéria “Como destruir uma empresa” (pág. 12345678), publicada na edição 1035 da revista Exame, a Petrobras esclarece que, ao contrário do que diz o texto, a Companhia não enfrenta problemas de caixa, cujo saldo ultrapassa atualmente R$ 40 bilhões. A Petrobras esclarece também que ao longo dos últimos anos, o aumento do endividamento veio acompanhado da redução do custo de captação da Companhia e da melhora da avaliação de risco por parte das agências de rating.

Ao contrário do que foi publicado, a Companhia não anunciou que “no primeiro semestre de 2013 as coisas piorariam ainda mais”. Na coletiva de imprensa realizada na sede da empresa em 05/02, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster, afirmou que “o ano de 2013 será um ano mais difícil, mas exequível”, esclarecendo que o segundo semestre de 2013 será um momento de partida para a recuperação da produção.

O Plano de Negócios e Gestão da Petrobras, amplamente divulgado, prioriza a área de exploração e produção de petróleo e gás para a qual estão destinados 60% dos recursos. As unidades de produção previstas para entrar em operação a partir deste ano garantirão uma produção de 3,3 milhões de barris de óleo equivalente por dia em 2016 e 5,7 milhões em 2020.

Em relação à política de Conteúdo Local, a Petrobras contrata bens e serviços no país em bases competitivas e sustentáveis para suportar seus projetos de investimento. Caso haja evidência de que a indústria local não tem capacidade de atender, as aquisições são realizadas no exterior. Por fim, a Petrobras reafirma que está implementando programas estruturantes que reforçam sua gestão, como o Programa de Recuperação da Eficiência Operacional e o Programa de Otimização de Custos Operacionais.