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PETROBRAS SOB ATAQUE DAS FORÇAS DE SEMPRE.

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Petrobras – A crise e o Dia Seguinte

Para refletir sobre a crise na Petrobras, cabe começar com uma análise resumida do modo como a imprensa está tratando o assunto. A situação de corrupção nessa empresa vem sendo utilizada para propagar uma onda de ineficiência e incapacidade do nosso parque industrial de lidar com o pré-sal. Trata-se na verdade de um caminho para justificar uma possível privatização da Petrobras e a plena internacionalização do nosso parque industrial. Os editoriais do jornal O Globo do final de 2014 e a forma tendenciosa do Jornal Nacional tratar o assunto são exemplos disto.

Ora, justo o império Globo comandando a posição de paladino da moral e dos bons costumes!

Para assumir tal posição, esquecem que seu império foi criado, dentre outros meios, com serviços prestados ao regime militar. Para mais detalhes a respeito, basta assistir ao documentário “Muito Além do Cidadão Kane” que mostra a forma como foi distribuída a mídia no Brasil e, em particular, como a família Marinho montou seu império. Foi exatamente com esses serviços prestados ao regime que a família Marinho cresceu. Exemplos são muitos. Vale lembrar dois.

O primeiro é o episódio do incêndio da Rede Globo de 1969, em São Paulo, que gerou perda total, coberta integralmente pelo seguro, quando, dias depois, equipamentos de última geração eram liberados em tempo recorde na alfândega. Tendo em vista a simbiose da emissora com o regime, nada foi investigado e a imprensa nanica que denunciou o fato foi calada pelos mesmos que hoje defendem a chamada liberdade de imprensa.

Outro fato a ser lembrado é a entrevista do general Figueiredo sobre a demissão do então ministro da Justiça, Abi Ackel. Segundo o que saiu na imprensa:

“A Polícia Federal, comandada por Ackel, fez uma batida em containers da Globo para investigar o tráfico de drogas, mas descobriu um contrabando milionário de equipamentos para a emissora. Como o material foi apreendido, o ministro começou a sofrer uma campanha difamatória das mais contundentes que já se viu na imprensa brasileira. Ibrahim Abi Ackel foi destruído não por causa de seus erros, mas por meter o bedelho nos negócios escusos do Roberto Marinho. “

Observe-se que esta entrevista foi publicada na ocasião, mas os jornais foram em seguida recolhidos das bancas pelos atuais defensores da liberdade de imprensa. Agora, esses mesmos atores passam a paladinos da moral e da anticorrupção, aproveitando-se do episódio da corrupção na Petrobras para defenderem a internacionalização total do Brasil! Nesse claro intuito, em edital, o jornal o Globo afirma que a Petrobras não tem condições de explorar o pré-sal e nem as indústrias brasileiras teriam como dar suporte para tal.

Essa afirmativa é imprudente e falsa, em primeiro lugar, porque foi exatamente a Petrobras que descobriu o pré-sal! Além disso, pode-se citar um episódio que mostra claramente a competência da empresa brasileira, que encontrou óleo onde anteriormente outra importante empresa abdicara de explorar. Isto evidencia ou não tal competência? Ademais, quanto à exploração em si, fruto de um imenso esforço, estão sendo implantadas no Brasil todas as condições tecnológicas para chegar a bom termo. Nesse sentido, laboratórios com excelentes infraestruturas foram criados a partir da lei que obriga as indústrias do ramo a investirem 1% do faturamento em P&D no Brasil; tecnologias foram importadas pelas nossas indústrias e adaptadas as nossas condições, entre outras medidas importantes que poderiam ser citadas. Entretanto, está sendo propalada a tese de internacionalização plena da exploração para que assim evitássemos a corrupção. Ora, esse raciocínio leva à falaciosa conclusão de que esse lamentável crime só acontece no Brasil e, ainda, somente se a firma for nacional. Crer nisso é realmente apostar que somos todos imbecis para aceitar essa manipulação grosseira.

Para que não restem dúvidas quando à estupidez dessa lógica, tomemos alguns exemplos que mostram como grandes indústrias internacionais são as mais corruptas do mundo e algumas até mesmo assassinas, já que o grande capital não tem ética nem escrúpulos.

Analisemos algumas questões: como atuaram as grandes empresas que exploram as minas de diamante na África do Sul? As de tabaco e de frutas em Cuba? As de alimentos que atuavam com a ditadura na Nicarágua, que participavam, inclusive, do comércio de sangue? E as multinacionais de mineração no episódio do cobre no Chile?

Ainda no mesmo intuito, retornemos ao Brasil. Quais são as firmas que estão envolvidas na corrupção (pouco explorada pela mídia, que destaca tanto o episódio da Petrobras) do metrô de São Paulo? São brasileiras? A Alston é francesa! E a Simens, não é alemã? (País modelo?) Caso queiramos ficar restritos ao ramo do petróleo, vamos nessa e falemos de alguns assassinatos em massa orquestrados nesse meio.

Sadam Hussein, foi colocado no poder no Iraque para servir à indústria internacional do petróleo, incentivado, de quebra, a guerrear com o Iran (que estava incomodando, pois havia deposto o imperialista local, igualmente colocado lá para bem guardar o petróleo para as grandes petroleiras internacionais), passado este período, virou inimigo. Assim, o outrora amigo Hussein passou a ser possuidor de armas químicas letais, o seu país foi invadido e ele, julgado e morto! E o petróleo como ficou? Ah, este ficou com quem de direito: novamente as multinacionais do ramo!

Em outra clara afronta a qualquer mente pensante, nos dias atuais, estamos vendo a brutal queda do preço do petróleo. Tentam nos convencer de que a Arábia Saudita decidiu baixar o preço do barril. Foi assim: o Sheike fulano de tal , após refletir com seu clã, decidiu que não diminuiria (como fez em outras ocasiões) sua produção e que iria baixar o preço do óleo! Novamente, por favor, poupem-nos desta versão ridícula! Quem controla a produção e distribuição destes óleos? São as mesmas de sempre? Quem está indo praticamente à falência com esta medida? Seria por acaso a Rússia, que tem no petróleo sua principal fonte de renda? A quem interessa tal falência? Basta responder a essas questões para ver que está sendo orquestrado um dumping temporário no preço do petróleo para quebrar a Rússia. Assim, depois disso, as multinacionais terão mais liberdade para INTERNACIONALIZAR (como se deseja fazer aqui no Brasil) as reservas russas e os EUA poderão vender seu gás via navio para a Europa, salvando, mais uma vez, o velho continente do domínio dos russos, que tenho certeza de que para muitos nos EUA, ainda são soviéticos! É óbvio que a Rússia estava incomodando e por isso passou a ser a bola da vez! Com isso, de lambuja ainda se afunda com o Iran, outro país dependente das exportações do petróleo e que estava querendo colocar as unhas de fora ao insistir com seu programa nuclear.

Bem, chega de falar sobre esta idiotice de querer nos convencer sobre a necessidade da internacionalização do pré-sal e da Petrobras. Voltemos à corrupção em si na empresa. É fato que o pessoal do primeiro escalão não poderia efetivar a operação sem auxílio de escalões inferiores. Quantos são, então, no total, cem? Duzentos? Vamos supor, para exagerar, que sejam quinhentos. Isto significaria que o percentual de funcionários corruptos seria de 500/80000 = 0.6%. Isto é, segundo essa projeção, 99,4% dos funcionários da Petrobras são honestos e não estão ligados com este esquema de corrupção. Logo, é falácia que a Petrobras seja uma empresa corrupta! Ela foi tão somente utilizada para implantação de um grande, lamentável e escandaloso esquema de corrupção.

Essa conclusão é óbvia e, caso tivéssemos no Brasil uma mídia democrática e preocupada com o destino da nação, e não controlada por pouquíssimas famílias, o episódio da Petrobras não estaria sendo tratado da forma jocosa e leviana como está. Nessa contramão, humildemente, tentemos trazer questões que são realmente importantes e que estão ausentes no quotidiano, não pretendendo ser exclusivos, mas sim mudar o rumo da discussão. Algumas questões, entre outras, nos parecem importantes.

Quais as consequências desta crise? Quais os fatores que levaram a isto? Como corrigir o rumo das coisas para evitar novos episódios como este? Como preservar a Petrobras e reverter a atual situação?

Gostaria muito de testemunhar uma discussão séria, tentando responder as questões levantadas, dentre outras. Apesar de não trabalhar na Petrobras, tenho algum contato profissional com ela e, no meu entender, resumidamente, pertinentes são as seguintes ponderações, sem prejuízo de outras análises mais detalhadas.

Em primeiro lugar, a consequência desta crise, caso não seja mudada a tendência atual de confundir a empresa Petrobras com os corruptos, será uma recessão como nunca vista no Brasil. Com a diminuição das atividades da empresa será instalada uma quebradeira geral nas indústrias que trabalham no ramo. Isso, obviamente, teria que ser evitado a todo custo e agindo rapidamente.

Sobre os fatores que levaram a essa situação e como evitar que tornem a ocorrer, certamente são muitos e muitas as formas de evitar a repetição. Entretanto, entre os pontos importantes a serem revistos, está o modo como os dirigentes são impostos na estrutura da empresa, já que, tradicionalmente, desde sempre, é o governo de Brasília que indica o primeiro escalão. Com o PT não foi diferente. Assim, são nomeados verdadeiros ETs dentro da empresa, o que teria que ser radicalmente modificado, privilegiando-se funcionários de carreira e a criando um modo eficaz de indicação.

Outro aspecto importante, que tem ligação com essa questão, seria a discussão do porquê um esquema como o atual pôde ser instalado e penso que uma das chaves para entender tal ponto é lembrar que a Petrobras é um ambiente onde não existe a tradição de questionamento das decisões superiores. Nessa empresa, vale a estúpida máxima de “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, não é comum, ou bem visto, incomodar o chefe. Dessa forma, com uma cultura desse tipo, não é inteligente questionar decisões equivocadas de instâncias superiores, com indícios ou não de má intenção. O máximo que pode ser feito, quando se ousa, é um relatório que mostre a incoerência da decisão. Certamente isso não é suficiente e há que se criar uma forte cultura em que todos sejam responsáveis pela empresa, seus acertos e erros. Não estão todos sofrendo com o atual episódio? Há, portanto, que se criar uma cultura que impeça que decisões erradas – técnicas ou administrativas – uma vez havendo consenso do erro, sejam impedidas de ocorrer. A cultura do “deixa pra lá, pois não é problema meu, fiz meu trabalho” leva a situações como a que estamos vivenciando.

Um exemplo pode ser utilizado para evidenciar tal fato. Veja-se que hoje muito se fala dos desmandos da administração anterior, entretanto, a atual presidenta e demais membros importantes da estrutura da empresa, obviamente não envolvidos com este esquema de corrupção e que vestem a camisa da empresa, estavam, na administração anterior, exercendo cargos importantes. Assim sendo, caso houvesse a cultura interna de discussão e a existência de canais impeditivos de levar a efeito decisões erradas, não estaríamos na situação que estamos, pois estes desmandos teriam sido impedidos, barrados. O lamentável esquema de corrupção que hoje nos escandaliza deixa, portanto, clara a urgência em mudar o conceito de hierarquia exagerado que existe na Petrobras. Talvez este aspecto seja muito evidente para nós que estamos na Universidade, onde se prioriza as discussões e análises, entretanto, como escrevi acima, apesar de não trabalhar na PETROBRAS, tenho clara a ausência mínima deste tipo de tradição. Não estamos defendendo uma total ausência de hierarquia, mas sim a criação de canais fáceis e importantes para, criado o consenso, que decisões corretas sejam levadas a termo, mesmo que não sejam aquelas originalmente apresentadas pela chefia. O chefe pode e deve ter posição a propor, mas deve convencer seus liderados e não aprovar suas decisões por ser o chefe. Como escrevi acima, uma decisão errada ou corrupta, não causa danos somente ao chefe e sim sobre toda empresa e todos são vítimas, inclusive, indiretamente, nós que não trabalhamos na PETROBRAS.

Finalmente, olhemos para o futuro e pensemos um pouco sobre como preservar a Petrobras e reverter a atual situação de crise, ressaltando que, seguramente, as questões aqui já pontuadas fazem parte de mudanças que facilitariam a recuperação da empresa.

Não se pode perder de vista que a Petrobras, embora seja uma empresa de capital misto com controle majoritário do estado brasileiro, é, de fato, uma das poucas sobreviventes da grande moda de privatização que assolou o país nos governos do PSDB. Sua importância é enorme. Portanto, seria muito bom que, com maior humildade, as pessoas importantes em sua estrutura criassem a cultura de quebrar seu isolamento. Por exemplo, decisões importantes poderiam ser discutidas com órgãos competentes que existem no país transformando-os em parceiros e não mais prestadores de serviços ou, em alguns casos, o que já é positivo, desenvolvedores de P&D. Hoje temos grandes centros de pesquisas e universidades, dentre as quais, sem sombra de dúvidas figura parte da COPPE. Por que não estreitar os laços com esses locais, através de algum convênio específico, como parceiros a serem ouvidos em algumas discussões importantes como, ajudar em análises de licitações, decisões técnicas críticas (como a seleção de um novo material para uma nova aplicação), trazendo mais cabeças especialistas para discutir estratégias? Por exemplo, hoje existe a decisão de fazer caixa priorizando a produção e exportação do petróleo, minimizando temporariamente os investimentos no refino. É compreensível, visto a situação da empresa. Entretanto, é realmente a melhor estratégia? Existem outras? Isso implica em exportar óleo bruto e importar gasolina, diesel e demais produtos refinados com muito maior valor agregado. Este assunto, por interferir diretamente com a vida dos brasileiros, não mereceria uma discussão com entidades competentes que pudessem contribuir? Enfim, penso que já que o petróleo (ainda) é nosso, a Petrobras deveria ser mais nossa e se fortalecer trazendo para dentro de si as instituições especializadas, envolvendo-as mais nos seus processos decisórios. Isso, a meu ver, fortaleceria sobremaneira a empresa.

Todas as questões levantadas e levemente discutidas poderiam ser amplamente debatidas, discordadas, melhoradas, mas, sobretudo consideradas para que ACABE a forma jocosa e irresponsável com que o assunto da corrupção na Petrobras vem sendo tratado. Que os responsáveis por este ato criminoso sejam severamente punidos, que o dinheiro furtado seja devolvido (todo e não parte, como geralmente ocorre) e bola para frente que precisamos avançar! O Brasil, desde seu descobrimento em 1500, é furtado e sobreviveu e o mesmo tem que ocorrer com a Petrobras. Esse fato ocorrido, infelizmente, é somente mais uma quadrilha, dessa vez instalada em tão importante empresa para o país. Esperemos por tudo isso, que a punição dos culpados nos faça caminhar exponencialmente para zerar tais crimes no país e, ainda, que medidas urgentes e responsáveis, dentre as quais algumas aqui se elencou, possam salvar a Petrobras da leviana ameaça de diminuir sua importância para o Brasil.

Viva a PETROBRAS e o Brasil!

Prof Oscar Rosa Mattos

Professor Titular

PEMM-DEMM-COPPE-POLI

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Autor: carlosadoria

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